19 setembro 2009

Para falar de tons e ares


(Aquele Querido Mês de Agosto, Miguel Gomes, Portugal, França, 2008).

(O Céu de Lisboa, Wim Wenders, Alemanha, Portugal, 1995)

09 setembro 2009


(A Erva do Rato, Brasil, 2008). Mas quanta tranquilidade: Julio Bressane faz A Erva do Rato fluir com alívio aos ávidos leitores do bruxo de Cosme Velho. É que o receio é típico quando se trata de uma adaptação ou apenas algo que leve obras de um grande escritor, tal qual Machado de Assis, como base para a criação audiovisual. As tensões provindas dos sarcasmos da estória sombria construída pelas ações dos personagens não fogem dos contos machadianos que serviram como base para o filme - A Causa Secreta e O Esqueleto.

O mérito do filme, porém, não se limita a contemplar as características literárias. O ponto de maior destaque é o deslocamento do foco cênico: A Erva do Rato utiliza os personagens humanos (só é uma pena Selton Mello se fechar em seu universo de interpretação) como pretexto para a psicologia do sexo e da obsessão ser representada por um rato. Digo isso com uma certa distância, já que Bressane ressalta o poder da imagem: não é só o animal que conta a história mas, sim, cada fotografia, cada gesto em silêncio. Por isso Walter Carvalho assina a fotografia do filme com um excelente trabalho de ambientação calcada na inocência. Uma inocência sempre questionada, no entanto não julgada, por conta da satisfação de prazeres.

04 setembro 2009

(Two Lovers, EUA, 2008). Quando descubro que interessante é aquilo que lida com conflitos de contrastes sutis e implícitos, e que, tal como em teatro, uma cena bem se sucede após outra a partir dessas tenacidades, eis que na grande tela surge a oportunidade de assistir a Amantes. Personagens bem construídos e sem caricaturas ao bel-prazer do final feliz — exatamente o que James Gray traz como um imperativo da pós-modernidade: um pedantismo não pejorativo por se fazer necessário. Tudo para compor um fino ataque a clichês ao utilizá-los (!) para filmar um conto sobre felicidade: elementos essenciais a favor da contestação contra as formas consagradas para se falar de amor. Por fim, e no fim, um sensacional suspiro interrompido.